Este texto é um comentário que tinha aqui num documento antigo. reproduzo-o na íntegra, porém não sei da procedência.
Em outubro de 1997, tivemos em Brasília o Seminário
AGRONEGÓCIO de Exportação. O Itamaraty, patrocinador do evento, exigiu o uso de
AGRONEGÓCIO em vez de
AGROBUSINESS, que era o termo preferido pelos empresários do setor. Ponto para o Itamaraty.
Sem querer ser purista, devemos defender a Língua Portuguesa. O uso desenfreado dos chamados "estrangeirismos", aportuguesados ou não, muitas vezes me parece modismo. Não vejo necessidade alguma de usarmos o infeliz do startar ou mesmo estartar. Por que não
INICIAR,
COMEÇAR ou
PRINCIPIAR? Num seminário recente, ouvi do palestrante, após o coffee break: "Vamos reestartar."Se não bastasse estartar, agora querem reestartar. É demais!
Outra desgraça é o paper. Além de mal traduzido, ainda está sendo usado num sentido muito amplo. Tudo virou paper. Quando me pedem um paper, não sei se é um relatório, um fax, uma carta ou uma proposta. Só falta o paper higiênico.
Também sugiro a substituição de uma péssima performance por um melhor
DESEMPENHO sexual.
É lógico que existem alguns estrangeirismos inevitáveis.
SOFTWARE e
MARKETING, por exemplo, são palavras consagradas entre nós. Já tentamos traduzi-las e depois aportuguesá-las. Luta em vão. São palavras que todos nós usamos e até podemos, hoje, escrevê-las sem aspas (aqui, no JB, nós costumamos usar os estrangeirismos em itálico, porém os mais consagrados já dispensam o grifo).
Algumas palavras suscitam polêmica, como é o caso de
DELETAR e
ACESSAR. São palavras facilmente aportuguesadas e que, no meu modo de ver, são restritas à área de informática. Imagine uma manchete no JB: "Policial deleta marginal". Seria ridículo! Você diz que o Presidente teve acesso à tribuna de honra, mas jamais diria que ele "acessou" a tribuna de honra (o verbo
ACESSAR não tem esse sentido genérico de "ter acesso").
Há estrangeirismos cujas traduções são questionáveis ou "não pegam".
KNOW HOW e
IMPEACHMENT são exemplos disso.
KNOW HOW seria "conhecimento ou tecnologia", mas eu tenho a certeza de que "quem vende
KNOW HOW cobra mais caro". No caso do
IMPEACHMENT ocorre algo curioso. Na Constituição Brasileira, a palavra é
IMPEDIMENTO. Quando se começou a falar sobre o
IMPEACHMENT do Collor, nós bem que tentamos usar o
IMPEDIMENTO. Mas não deu. Na época, eu tive a sensação de que
IMPEDIMENTO era pouco, o que se queria era
IMPEACHMENT. Parece brincadeira, mas não é. Há palavras estrangeiras cujas traduções não têm o "mesmo peso". O mesmo
IMPEDIMENTO que substitui maravilhosamente bem o velho off side no futebol é "fraco" para substituir o
IMPEACHMENT. Alguns alunos detestam quando eu afirmo que há palavras que "não pegam". Ora, pior é vivermos num país onde existem leis que "não pegam".
Outro problema difícil é o aportuguesamento. Há casos consagrados como
FUTEBOL,
ABAJUR,
ESPAGUETE,
GRIFE e outros mais. Entretanto, há os problemáticos:
XAMPU ou
SHAMPOO? A forma
XAMPU já é bastante usada quando nos referimos aos xampus em geral. Porém, nos rótulos dos shampoos, continua a forma estrangeira. Talvez os fabricantes temam que os brasileiros pensem que se trate de algum xampu vagabundo.
Outro exemplo é stress. Eu prefiro
ESTRESSE, por ser facilmente aportuguesado e, principalmente, para ser coerente com a forma derivada:
ESTRESSADO. Por outro lado, creio que o aportuguesamento de
SHOW é do tipo que "não pega", porque ficou preso à Xuxa, a rainha dos baixinhos e a mãe do
XOU.
LEIAUTE é outro aportuguesamento que dificilmente será usado. A forma inglesa é mais poderosa.
FEEDBACK é um exemplo curioso. O aportuguesamento
FIDEBEQUE ficou horroroso e traduzi-la por retroalimentação é perigosíssimo na linguagem falada: alimentação por onde?
REALIMENTAÇÃO ou
RETORNO são boas soluções.
Como você pôde observar, é muito difícil criar uma regra. Cada caso merece uma análise individual. Entretanto, uma regra podemos seguir: para qualquer novo estrangeirismo, primeiro devemos buscar uma palavra correspondente em português.
E antes de usarmos a forma estrangeira, ainda devemos tentar o aportuguesamento.