quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Personalidade

A língua que falamos é capaz de ressaltar ou obscurecer nossos traços de personalidade. Pelo menos é o que afirmam psicólogos da Universidade Politécnica de Hong Kong, na China, em um trabalho publicado no Personality and Social Psychology Bulletin. Os pesquisadores descobriram que estudantes chineses bilíngues pareciam mais extrovertidos, seguros da própria opinião e abertos a novas experiências – traços geralmente associados a ocidentais – quando participavam de entrevistas feitas em inglês. Os mesmos traços não eram tão enfatizados quando os interlocutores falavam mandarim. Outro ponto curioso é que a etnia do entrevistador teve influência sobre o comportamento dos voluntários: todos eles se mostraram menos comunicativos e dispostos a ajudar ao conversar com um interlocutor oriental, independentemente da língua usada durante o diálogo. Apesar de ainda serem necessários mais trabalhos para comprovar as conclusões, na opinião dos pesquisadores os resultados sugerem que a personalidade não é fixa, ela pode se manifestar de maneiras diversas, dependendo da situação, das pessoas com quem interagimos e até da língua falada. O mais intrigante é que aspectos de determinado perfil associado a um idioma ou a uma pessoa também podem nos levar a pensar – e agir – de determinadas formas, o que em outras circunstâncias não faríamos.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Carroça vazia



Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.
Após algum tempo, ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
- Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroça.
- Isso mesmo – disse meu pai – e é uma carroça vazia!
Perguntei a ele:
- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora – respondeu meu pai – é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grosseria inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo mundo e querendo demonstrar ser o dono da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
- Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz!