O verbo DETONAR é, sem dúvida, o campeão. Se fôssemos escolher o maior vício da linguagem jornalística desde 1997, o DETONAR já estaria eleito. Eu não estou me referindo ao enorme número de bombas que, infelizmente, foram detonadas durante este ano. Na verdade, estou aludindo ao mau uso do verbo DETONAR, nos mais variados sentidos. Hoje "detonam" qualquer coisa.
Tivemos a oportunidade de ler e ouvir "coisas" do tipo:
"Foi a avó que DETONOU nela a verdadeira paixão pela música."
"A estratégia foi suficiente para DETONAR uma intensa propaganda boca a boca."
"O Presidente DETONA o que pode ser um difícil processo de confirmação."
"É o mesmo fator que DETONOU a crise do México em 94."
"A estratégia foi suficiente para DETONAR uma intensa propaganda boca a boca."
"O Presidente DETONA o que pode ser um difícil processo de confirmação."
"É o mesmo fator que DETONOU a crise do México em 94."
É interessante observar que o verbo DETONAR ganhou várias acepções: começar, iniciar, gerar, expandir, crescer, desenvolver...
Isso tudo sem falar na mania de usar o DETONAR como sinônimo de DIZER ou AFIRMAR.
Além da pobreza de estilo (toda metáfora exageradamente repetida perde a expressividade e a graça), devemos observar as ambigüidades. No exemplo "Foi a avó que DETONOU nela a verdadeira paixão pela música", o autor queria referir-se ao fato de ter sido "a avó quem DESPERTOU nela a verdadeira paixão pela música". Porém, um desavisado poderia imaginar que "a avó teria DESTRUÍDO a paixão pela música".
Fenômeno semelhante ocorre em "É o mesmo fator que DETONOU a crise do México em 94". Aqui, o autor se referia "ao fator GERADOR ou ao fator que INICIOU a crise do México em 94". Mais uma vez, o nosso leitor desavisado poderia dar outra interpretação: para ele, é "o fator que ACABOU com a crise do México em 94". Sugiro, portanto, que o verbo DETONAR seja detonado, no verdadeiro sentido da palavra.
"Terroristas EXPLODEM bomba em hotel lotado de turistas." É impossível que terroristas tenham "explodido" uma bomba. É a bomba que explode. O verbo EXPLODIR é intransitivo (=ninguém explode nada, é a coisa que explode). Na verdade, "os terroristas DETONARAM uma bomba". Esse é o uso correto do verbo DETONAR. Agora, uma sugestão: não devemos substituir "detonar crise" por "explodir crise". O problema é o mesmo.
Cuidado com as metáforas! Com o desejo de não repetir o verbo DIZER, é freqüente vê-lo substituído não só por DETONAR e EXPLODIR como também por "disparou, fulano", "alfinetou, beltrano", "dinamitou, sicrano"... Essa "criatividade" excessiva pode nos levar a "coisas" ridículas, como: "Foram tantos sucessos que CATAPULTARAM o grupo para a fila do gargarejo da MPB." Se você não entendeu a "metáfora", a "tradução" é a seguinte: "o tal grupo estava, na parada de sucessos, em 10º lugar; entretanto os últimos sucessos foram tantos que o grupo foi para o 1º lugar". Haja criatividade!
Assim não dá! Se DETONAR já é difícil de aturar, imagine CATAPULTAR.