Certa feita tomei o
metrô rumo à praça da Sé. Eram meus primeiros dias em São Paulo, e eu gostava
de andar de metrô e ônibus. Tinha um gosto especial em mostrar-me para sentir a
reação das pessoas quando me viam passar. Queria poder ter a certeza de que as
pessoas me identificavam como índio a fim de dar minha auto-imagem.
Nessa ocasião a que me refiro,
ouvi o seguinte diálogo entre duas senhoras que me olharam de cima abaixo
quando entrei no metrô:
– Você viu aquele moço? Parece
que é índio – disse a senhora A.
– É, parece. Mas eu não tenho
tanta certeza assim. Não viu que ele usa calça jeans? Não é possível que ele
seja índio usando roupa de branco. Acho
que ele não é índio de verdade – disse a senhora B
– É, pode ser. Mas você viu o
cabelo dele? É lisinho, lisinho. Só índio tem cabelo assim, desse jeito. Acho
que ele é índio sim – defendeu-me a senhora A.
– Sei não. Você viu que ele usa
relógio? Índio vê a hora olhando pro tempo. O relógio do índio é o sol, a lua,
as estrelas… Não é possível que ele seja índio – argumentou a senhora B.
– Mas ele tem o olho puxado –
disse a senhora A.
– E também usa sapatos e camisa
– ironizou a senhora B.
– Mas tem as maçãs do rosto
muito salientes. Só os índios têm o rosto desse jeito. Não, ele não nega. Só
pode ser índio e, parece, dos puros.
– Não acredito. Não existem
mais índios puros – afirmou cheia de sabedoria a senhora B. – afinal, como um
índio poderia estar andando de metrô? Índio de verdade mora na floresta,
carrega arco e flechas, caça e pesca e planta mandioca. Acho que não é índio
coisa nenhuma.
– Você viu o colar que ele está
usando? Parece que é de dentes. Será que é dentes de gente?
– Você não disse que não achava
que ele era índio? E agora parece que você está com medo?
– Por via das dúvidas…
– O que você acha de falarmos
com ele?
– E se ele não gostar?
– Paciência… Ao menos nós
teremos informações mais precisas, você não acha?
– É, acho, mas confesso que não
tenho muita coragem de iniciar um diálogo com ele. Você pergunta? – disse a
senhora B, que a esta altura já se mostrava um tanto constrangida.
– Eu pergunto.
Eu estava ouvindo a conversa de
costas para as duas e de vez em quando ria com vontade. De repente senti um
leve toque de dedos em meu ombro. Virei-me. Infelizmente elas demoraram a
chamar-me. Meu ponto de desembarque estava chegando:
Olhei para elas sorri e disse:
– Sim!
(Histórias de índio, de Daniel
Munduruku, da editora Companhia das Letrinhas)
Observe quando e onde acontecem os
fatos da história.
Quem narra a história?
Antes de começar a leitura, imagine...
Qual será o assunto de um texto que tem esse título? Como seriam os
personagens?
1-Que fato dá origem a essa crônica?
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2-Ao ler o título do texto, o leitor
já pode antecipar o que seria contado?
Justifique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3-Considere o trecho retirado do
texto: “Certa feita tomei um metrô...”
a) Que palavra revela que a crônica foi escrita em 1ª pessoa?
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b) Qual o significado da palavra
sublinhada?
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c) O termo
“certa feita” expressa
uma situação ocorrida no presente ou no passado?
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4-Quanto tempo durou a história
narrada?
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O texto que você acaba de ler é uma
crônica que apresenta, de forma bem humorada, um fato ocorrido
no cotidiano do índio “civilizado” .
5-No texto “É índio ou não é índio?” o
narrador-personagem conta os fatos sempre em 1ª pessoa. Ele é um narrador que
está presente, participando dos acontecimentos.
Reescreva o 1º parágrafo como se a
história estive sendo contada por um narrador-observador que,
simplesmente, observa a cena,
sem participar dela. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
“Nessa ocasião a que me refiro, ouvi o seguinte
diálogo entre duas senhoras que me olharam de cima abaixo quando entrei no metrô:”
O trecho acima, retirado do texto,
antecede um diálogo.
O diálogo é uma conversa entre os
personagens.
6-No trecho “...que me olharam de cima abaixo quando entrei...”, o que você entende
por “olharam de cima abaixo”?
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7-Por que ele foi olhado desse jeito?
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8-No trecho “... entre duas senhoras que me olharam de cima abaixo...” a quem se
refere o termo destacado?
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9-Que sinal gráfico indica o início da fala dos personagens? Retire do texto um exemplo que comprove sua resposta. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Outra
Interpretação
1)
Quem é o autor do texto?
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2)
Do que o texto trata?
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3)
Releia o diálogo entre as senhoras A e B.
a)
Liste as características do autor que chamaram a atenção da senhora A.
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b)
Liste as características do autor que chamaram a atenção da senhora B.
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c)
A que conclusão se pode chegar? Parece que estão observando a mesma pessoa? Por
que isso acontece?
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4)
Segundo o texto, porque o indígena Daniel Munduruku gostava de passear de
ônibus e metrô?
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5)
Durante a conversa as duas senhoras manifestaram sentimentos como curiosidade,
constrangimento, dúvida, segurança, etc. Identifique quais sentimentos
demonstram as falas a seguir:
a) - [...] Acho que não é índio coisa
nenhuma [...]
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b)
– É, acho, mas confesso que não tenho muita coragem de iniciar um diálogo com
ele. Você pergunta? – disse a senhora B, que a esta altura já se mostrava um
tanto constrangida.
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6) Releia o trecho:
a) Quantos parágrafos há no texto?
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b) Por que o primeiro parágrafo do trecho não é iniciado por
travessão como os outros dois? O que indica o travessão no início dos
parágrafos?
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c) Há travessões também no meio de alguns parágrafos. O que
indicam?
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Respostas
1) O indígena Daniel Munduruku.
2) De uma experiência vivida pelo autor do texto e das reações de
duas senhoras que o viram no metrô.
3) a) Parecia índio, tinha cabelo lisinho, olhos puxados, maças do
rosto salientes e usava colar de dentes.
b) Usava calças jeans, relógio, sapato, camisa e andava de metrô.
c) São modos distintos de olhar a mesma pessoa, pois elementos
diferentes chamaram a atenção das senhoras.
4) Porque queria sentir a
reação das pessoas ao vê-lo: um indígena de verdade Queria saber como o viam
para formar sua autoimagem.
5) a) dúvida
b) constrangimento, receio
c) decisão, firmeza
6) a) O trecho tem 3 parágrafos.
O texto completo tem 21 parágrafos.
b) O primeiro parágrafo contém parte do relato, enquanto os outros
dois iniciados por travessão, contem a reprodução das falas das pessoas que
participam dos fatos.
c) Esses travessões indicam o fim da reprodução das falas das
senhoras.